- Capítulo 14
São Paulo entardecia. Uma tarde triste e violenta na maior cidade brasileira. Os grandes jornais, emissoras de televisão e rádios, compartilhavam a notícia com o povo paulista e brasileiro:
“... Uma escola municipal atacada por traficantes fortemente armados...”
“... Não sabemos ao certo se foi uma ou duas mortes e nem quantos feridos...”
“... A polícia não sabe ainda o motivo desse ataque...”
“... Os vizinhos comentaram que a rua parecia uma praça de guerra. Muitos tiros foram ouvidos quando a polícia chegou e começou a trocar tiros com alguns dos bandidos...”
“... um transeunte que estava na rua na hora de toda confusão, disse que os marginais quando chegaram a frente da escola começaram a jogar pedras por cima do muro e antes da polícia chegar um dos marginais atirou duas vezes através de uma abertura lateral do portão do colégio...”
Durante toda tarde e noite a notícia foi destaque em todos os canais de TV.
* * *
A confusão estava instaurada na escola e em torno dela. A rua da escola estava fechada para transitar carros. Somente ambulâncias e carros de polícia é que tinham acesso ao local. Na parte interna da escola estavam os detetives, peritos criminais e pais aflitos por notícias de seus filhos. Ninguém ainda sabia ao certo o porquê desse episódio tão terrível. As pessoas se questionavam o porquê atirar nas inocentes crianças do colégio. Estavam horrorizadas com a poça de sangue que se encontrava no caminho para a porta do prédio da escola. O terror estava estampado na cara das pessoas que cruzavam o local onde uma pessoa inocente havia sido baleada. O local estava isolado e os peritos examinando, fotografando, medindo, anotando alguma evidência ou quem sabe uma pista. Um ser humano, um ser... Uma pequena vida já com tamanha dor. Um ente baleado sem motivo aparente. Uma monstruosidade sem igual.
A diretora da escola estava às voltas com os pais das crianças. Muitas explicações sem um fundamento real, tudo era balizada em teorias e especulações. Muitas dúvidas, muito choro, muita revolta. Os membros discentes do colégio estavam ajudando como podiam a polícia, mas não tinham muito a oferecer de informação. Em trinta anos de existência essa escola nunca teve algo semelhante. A única vez que ela foi evidência em noticiários locais foi quando, em 1997, um aluno da oitava série ficou completamente pelado no banheiro das meninas e uma das mães dessas garotas ao saber chamou o jornal e pediu a cabeça da diretora da época. A reportagem surtiu efeito. A secretaria municipal de educação exonerou a diretora, apesar da revolta de outras mães pedirem para não retirá-la.
Em frente do portão principal, estava estacionada uma ambulância do corpo de bombeiros. Uma grande movimentação em volta dela. A polícia militar efetuava o cordão de isolamento, evitando que os curiosos atrapalhassem os bombeiros. Uma mulher estava bem próxima a ambulância, do lado interno do cordão de isolamento, dando uma entrevista aos jornalistas que estavam amontoados tentando obter mais informações sobre o episódio ocorrido. Era a mãe de Naty.
Naty estava deitada em uma maca, dentro de uma ambulância, com a roupa totalmente ensangüentada. Os paramédicos do corpo de bombeiros estavam executando os primeiros socorros, antes de levá-la ao hospital público. Seu pai estava aos prantos do lado de fora da ambulância, acompanhando os procedimentos médicos. Eles estavam dando o seu melhor. Outra ambulância havia acabado de sair do local levando um adolescente em estado grave ao hospital. O pai de Naty acariciava os pés de sua filha que estavam voltados para a porta traseira da ambulância. Rezava com muito fervor, pedindo que Deus a salvasse. Ele não sabia ainda o estado de sua filha. Quando chegou à escola, os bombeiros já estavam cuidando de sua filha e até aquele momento não haviam dado nenhuma informação sobre o estado de sua filha querida. Um dos médicos saiu da ambulância e o pai da Naty falou enquanto enxugava as lágrimas em seu rosto:
- Dou... Doutor! Como está minha filha? É muito grave?
- Não se preocupe senhor. Ela está bem. – afirmou o paramédico.
- Graças a Deus! Obrigado doutor, muito obrigado! – respondeu ele, chorando ainda mais, mas agora era um choro de alívio.
- De nada. Senhor fiz apenas o meu trabalho. Sua filha apenas está desmaiada.
- Desmaiada? – Questionou o pai da Naty.
- Sim. Ela desmaiou e bateu com a cabeça no chão, que ocasionou um corte na cabeça, no qual já efetuamos a sutura. - comentou o médico, limpando o suor da testa com uns lenços descartáveis. Continuou: - Iremos levá-la até ao hospital para efetuar uma tomografia e ficar em observação apenas por precaução.
- Ai meu Deus. Doutor, quando vi minha filhinha toda ensangüentada, achei que ela tinha sido baleada. – comentou o pai aliviado.
- Não senhor. O garoto baleado já foi para o hospital. – falou o médico.
- Sério! O senhor sabe quem era? – pressentiu algo ruim o pai de Naty. Ele de alguma forma sabia quem era o menino.
- Um minuto, vou verificar. – se afastou o médico, até a parte dianteira da ambulância. Ele passou o rádio para a outra ambulância e alguns minutos depois retornou com a informação.
- Senhor, o nome do menino é Lucas. Ele foi baleado e me parece ser grave. Eles já chegaram ao hospital.
- Lucas! Não pode ser ele?
- O senhor o conhece? – perguntou o médico.
- Receio que sim. Ele é o amigo de minha filha. – respondeu o pai dela. Nesse momento a mãe de Naty se aproximou deles e perguntou.
- Como está a Naty?
- Nossa filha está apenas desmaiada e com um corte na cabeça, graças a Deus. – respondeu o marido.
- Que bom! – comentou ela. – Vou continuar a falar com os jornalis...- cortou seu marido.
- Alto lá! Chega! - Gritou ele com sua esposa que arregalou os olhos e ficou petrificada com a atitude de seu marido que continuou a resmungar só que com um tom mais baixo: - Nossa filha será enviada ao hospital e nós dois estaremos lá quando ela acordar. – parou de falar, deu uma boa encarada em sua mulher e continuou – Você parece que não tem coração e nem se importa com a Naty. Mas isso tem que acabar. Não vou permitir mais você maltratar nossa filha. – Neste momento a mãe da Naty começou a chorar e os flashes das câmeras dos repórteres começaram a pipocar na direção deles. O marido dela ficou irritado e a empurrou para dentro da ambulância e disse:
- Vá com sua filha. Eu irei logo atrás de vocês. Ok? – perguntou ele, encarando sua mulher que estava olhando para sua filha, ali deitada completamente fora daquela realidade. Ela balançou afirmativamente, sem olhar para seu marido. Continuava chorando. Certo arrependimento invadiu o coração daquela mãe que por alguma razão havia sido tomado por algo escuro e ruim. Uma mãe deve amar seu filho e não odiá-lo. Isso é contra a lei natural ditada pela mãe natureza. Até as fêmeas do reino animal protegem suas crias ao invés de rejeitá-las. Quando isso não acontece, é um ato não natural. Um dos paramédicos continuou ao lado de Naty, monitorando-a, enquanto o outro paramédico iniciou o procedimento de fechar as portas da ambulância para levá-la ao hospital da região. Provavelmente o mesmo hospital onde Lucas se encontrava, pensou o pai dela. O pai de Naty foi pegar o seu carro e foi imediatamente ao hospital.
A ambulância saiu em disparada, com a sirene ligada, abrindo passagem no trânsito caótico de São Paulo em direção ao hospital do Bairro. A mãe da Naty fitava o rosto de sua filha com um ar tão tenro como se ela quisesse estar ali no lugar de sua filha. Por um momento ela deixou escapar por sua boca:
- Filha, eu te amo. Perdoe-me. – No momento que essas palavras terminavam de fluir por sua boca, mesmo que em tom baixo, Naty se mexeu de forma violenta. O soro que estava sendo injetado em sua veia se soltou. O médico imediatamente iniciou o procedimento de recolocar o soro na Naty. Sua mãe a olhava e segurava a mão de Naty. A roupa ensangüentada de Naty a deixava com náuseas.
Naty começou a gritar desesperadamente:
- Lucas, Lucas, Lucas...- engasgou e voltou a falar. - Onde está o Lucas? – Perguntava Naty ainda desnorteada.
- Minha querida! – falou a mãe calmamente com uma voz doce e acariciando-a. Continuou: - Como você está filhinha? - ao ouvir uma voz familiar mas não percebendo quem era, Naty se virou em direção a voz, olhou espantada ao ver sua mãe ali e comentou:
- Mãe? – falou ainda quase sem forças e sem som.
- Sim filha, sou eu mesma. Como você está se sentindo? – perguntou novamente.
- Hãm! Estou bem. Onde estou, mãe? Cadê papai? – falou ainda tentando entender o que estava acontecendo.
- Meu anjo, estamos indo para o hospital para cuidar de você. Você desmaiou e fez um corte em sua cabeça. – explicou sua mãe. Neste momento, Naty começou a se lembrar o que havia acontecido. Começou a se olhar e percebeu aquele sangue em sua roupa e começou a falar:
- Mãe, esse sangue em minha roupa é do Lucas. Ele foi baleado quando ia em direção para me ajudar. Ele estava me protegendo mãe e acabou sendo baleado.
Naty começou a chorar muito e soluçar. O médico iniciou o procedimento de sedação. Naty estava muito nervosa e chorava muito. Alguns minutos se passaram e os remédios começaram a surtir efeito, fazendo com que Naty adormecesse. Ela estava com a face toda molhada de lágrimas. Sua mãe pediu alguns lenços de papel ao paramédico que prontamente a atendeu. A mãe de Naty começou a enxugar o rosto dela bem devagar para não assustá-la ou até acordá-la, como se isso fosse possível. Sua mãe enquanto jogava fora os lenços descartáveis na lata de lixo da ambulância, pensava no que havia acontecido o porquê do Lucas ter sido baleado e o porquê de sua filha ainda estar na escola àquela hora do tiroteio. Algo não estava encaixando, pensava a mãe. As palavras de sua filha afirmando que ele a estava protegendo, deu uma conotação estranha ao fato. Ela começou a perceber que realmente não conhecia sua filha.
A sirene da ambulância parou de tocar. Poucos minutos a ambulância parou e logo a porta traseira abriu e apareceram dois homens de branco, possivelmente enfermeiros, que puxaram a maca para fora da ambulância, abaixando os pés com rodinhas. Um dos enfermeiros começou a conversar com o paramédico e o outro foi levando a maca com a Naty para dentro do hospital. A mãe da Naty a estava acompanhando. Ao chegar à porta do corredor que levava as enfermarias foi imediatamente barrada pelo segurança que disse que ela não poderia entrar. Ela disse:
- Minha filha é menor de idade e eu quero ver quem é macho para me impedir. – falou ela olhando firmemente o segurança.
- Mas dona eu tenho regras para cumprir! – retrucou o segurança.
- Regras foram feitas para serem quebradas. Eu vou ficar ao lado de minha filha. Pode vir o até o Papa dizer que eu não posso entrar com minha filha na enfermaria, que eu não vou me abalar e nem obedecer. Minha filha é minha vida. Neste momento da discussão o pai de Naty chega ao hospital e vê sua mulher discutindo com o segurança da emergência. Ele acelera o passo e chega rapidamente ao lado dos dois e pergunta:
- Amor o que está acontecendo?
- Esse senhor está tentando me impedir de ficar ao lado de minha filha. Não quero deixá-la sozinha lá dentro. – disse ela em tom mais exacerbado.
- Fique calma minha querida, iremos resolver isso. – olhando para o segurança ele pergunta: - Senhor, por favor, não está vendo uma mãe desesperada querendo estar ao lado de sua filha. O senhor tem filhos? – perguntou ele já emocionado e com os olhos olhados e inchados de tanto chorar, esperando que o segurança atenda o seu pedido.
- Senhor, eu entendo a dor de vocês, mas eu tenho que seguir as regras do hospital. Estou aqui cumprindo ordens e tentando manter a segurança de todos. Por favor, entendam a minha posição. – respondeu o homem já com um nó em sua garganta ao ver que a aqueles pais desmoronarem aos prantos à sua frente. Mas ele resolveu dar uma dica: - Olhe, por favor, não diga que fui eu quem falou, mas como sua filha é menor de idade, um de vocês vai poder acompanhá-la, mas vocês terão que obter permissão na administração com a senhora Claudia Peres.
- Muito obrigado ... – agradeceu o pai de Naty, olhando o nome do segurança no crachá. – senhor Claudio. Iremos lá neste momento falar com a tal de Claudia Peres. – O pai de Naty, puxou sua mulher para perto dele, passou um dos braços por sua cintura e a levou para a administração.
Na enfermaria, Naty estava dormindo ainda sob o efeito do tranqüilizante. Mas ela não estava ali. Seu coração estava à procura da sua outra metade.
- Lucas meu amor, onde você está? – repetia ela sem se cansar. A cada chamado não atendido a angústia aumentava. Seu corpo estava imóvel, mas sua mente vagava a procura de respostas e de seu amor. O que aconteceu com seu verdadeiro amor. Nenhuma resposta, nenhum encontro astral. Naty em sua forma astral começa a acreditar que seu amor havia morrido. Estaria em outro plano e não mais poderia vê-lo, tocá-lo e amá-lo. De repente Naty estava sendo guiada por alguém a outro lugar. Um lugar onde nunca estivera. Lá havia outras pessoas que a esperavam. Ao se aproximar daqueles seres de luz, um círculo de seres foi feito em torno dela. Uma voz se fez presente em sua mente.
- Minha querida Naty. – era uma voz forte que nem um trovão, mas com um tom doce como se uma pequena brisa acalmasse seu coração. A voz continuou:
- Você é uma criança forte... – Naty ao ouvir a palavra criança emburrou-se. Ela não era mais uma criança, pensou. Enquanto isso a voz continuava a falar. - ... vai precisar ser mais perseverante, mais forte e com muito mais fé. O menino Lucas precisará muito de você. Vocês têm uma ligação que foi construída com muito sofrimento e amor por muitas vidas... –Naty começou a sentir seu coração apertar e interrompeu a voz:
- O meu Lucas morreu? – um silêncio em sua mente se fez. Nenhuma voz se manifestou por alguns instantes. Pareceu que após a pergunta dela, as luzes de cada corpo etéreo ali presente diminuiu de intensidade, escurecendo ainda mais o seu coração. Naty entrou em desespero. Não queria acreditar que seu único amor havia a deixado mais uma vez. Não era justo. Mas uma voz diferente quebrou o silêncio e disse:
- Respondendo sua pergunta eu digo que Sim. Ele já não está mais entre vocês humanos.
Naty gritou desesperadamente:
- Nãooooooo! Ele Nãooooooooo! Me leva também, por favor!
- Calma minha criança... – retornou a ecoar aquela primeira voz. - ... ele realmente não está entre vocês, mas também ainda não deixou vocês.
- Como assim? – perguntou ela com certo espanto.
- Ele está em um estado letárgico. Seu corpo físico está vivo, ligado a máquinas, mas sua alma está dissociada de seu corpo. Ele está em um território neutro, em outra realidade. Ele se sentirá só, angustiado. Somente uma grande força poderá resgatar essa alma e trazê-lo de volta, ou levá-lo a luz.
- Quer dizer que o meu Lucas está vivo? – falou Naty com uma esperança arrebatadora que explodia seu coração.
- Ele está em coma. Um corpo sem alma uma vida morta. Naty procure melhorar, ele precisa de sua ajuda. Ele precisa de seu amor, pois só esse amor poderá resgatá-lo desse limbo e quem sabe trazê-lo de volta a vida.
- Eu farei isso! Eu vou conseguir resgat.. – Naty foi interrompida novamente.
- Naty, ele não quer ser resgatado. Ele está chamando Priscila. Outra coisa que você deverá saber é que existe outra menina que também ama tanto Lucas quanto você.
- Laryssa. – falou Naty.
- Sim minha querida. Talvez juntas consigam trazê-lo de volta.
- Juntas? – falou desanimada. – Se é para o bem dele e se isso o trará de volta eu farei qualquer coisa.
- Querida você o ama tanto quanto sua amiga Laryssa. Agora procure descansar para ajudá-lo.
- Ele salvou a minha vida. Eu o amo. – afirmou Naty com todo fervor.
Aqueles seres foram se afastando até sumirem e Naty retornou ao seu corpo consciente e acordando alguns minutos depois.
Sua mãe estava lá sentada em uma cadeira ao lado de sua cama hospitalar. Naty estava confusa com tudo. Ao ver sua mãe ao seu lado uma sensação de estar protegida e amada. Sua mãe ao perceber que Naty havia acordado, se movimentou até a cama e a ajeitou, deu um beijo em sua testa e falou:
- Como você está se sentindo minha linda? – perguntava para a Naty enquanto se sentava novamente na cadeira. Aquela enfermaria do hospital estava lotada. Tinha mais nove pacientes com todo o tipo de problema. Naty antes de responder viu que havia um garoto ao seu lado que estava olhando para ela. Naty sorriu para ele e se voltou para a mãe e disse:
- Estou bem sim. Mãe, cadê papai?
- Ele está lá fora querida e está muito preocupado com você.
- Mãe posso lhe pedir uma coisa? – suplicou Naty e sua mãe concordou com a cabeça e Naty continuou: - Por favor, procure saber notícias do Lucas, ele deve estar aqui neste hospital. Ele está em coma, mãe.
- Como você sabe que ele está em coma? – perguntou espantada.
- Eu senti. Ele foi baleado no colégio quando veio me ajudar. Mãe ele salvou a minha vida hoje. Os caras maus bateram no meu namorado, Greg, acho que ele morreu.
- Como assim minha filha? – Neste momento foram interrompidas por uma voz masculina. Era um homem alto, careca, muito forte. Carregava uma arma pendurada em um coldre de ombro. Ele era um policial e queria um depoimento informal de Naty.
- Boa noite. Meu nome é George. Detetive George e gostaria de fazer algumas perguntas para a menina Naty. Me permitem sentar aqui? – junto com ele, havia mais um policial e o médico de plantão que o autorizou a efetuar um pequeno depoimento. A mãe a princípio foi contra, mas a Naty disse que queria ajudar no que podia. Antes do detetive perguntar, Naty é quem perguntou a ele.
- O senhor pode me dizer o que aconteceu com o Lucas e com o Greg?
- Menina Naty, seus amigos estão sendo tratados neste hospital. Ambos estão vivos, apesar do estado que é muito grave. O menino Greg está consciente e bem machucado. Ainda não conseguimos falar com ele, pois está com muitas fraturas e está dormindo. Não tem risco de morte. Já o menino Lucas está ... – Naty complementou a fala.
- O senhor quer dizer em coma, certo? Ele foi baleado na minha frente.
- Sim querida, ele está em coma e sua vida está estabilizada. Ele será enviado a outro hospital com mais recursos que este, ainda hoje. Bem podemos começar?
- SSim e obrigado por me falar sobre meus amigos. – falou Naty com um nó na garganta. – Pode perguntar senhor George.
- Vamos lá. Você pode me contar como tudo aconteceu?
- Sim senhor. Lucas é um grande amigo e estava em coma. E o meu namorado Greg apanhou dos caras maus. - Naty tentou segurar as lágrimas, mas era impossível segurar tanta dor. Ela começou a lembrar dele estirado no chão com uma poça de sangue esvaindo de seu lindo corpo. Depois começou a recordar de seu namorado sendo espancado em uma covardia sem limite. Naty perdeu-se em seus pensamentos e neste instante o detetive pigarreou.
- Cof Cof! Menina Naty, tudo bem?
- Hã, desculpe-me. – respondeu Naty limpando as lágrimas em suas bochechas.
- Bem! Você pode nos contar o que aconteceu?
- Sim. - Naty começou a contar tudo o que havia acontecido ao detetive que anotava tudo que achava importante. Ninguém interrompeu a história real que Naty estava relatando. Foram mais de 80 minutos de relato. Não era um depoimento formal. Ao final do relato, ele estava chorando novamente. – Querida, o menino Lucas vai sair dessa. – disse o policial a ela.
- Ele não pode morrer! – exclamou ela. – ele salvou minha vida várias vezes. Isso não é justo.
- Não irá morrer. Ele é um garoto forte. Vamos rezar para ele melhorar.
Neste momento o médico de plantão, entrou pela porta e pediu a todos que se retirassem. Naty tinha que descansar. A mãe dela deu um beijo de boa noite e foi para casa descansar, mas prometeu estar lá na hora que ela acordasse. Sua mãe também deixou o telefone celular com ela para que ela ligasse.
- Mãe!
- Sim filha!
- Obrigado por tudo. Te amo!
- Também te amo filha. Eu é que tenho que pedir desculpas por ter sido uma mãe tão ruim. – disse já chorando. – você é uma filha de ouro e tenho muito orgulho disso. Obrigado por me aturar e aturar minhas idiotices. Acredite, eu hoje, aprendi muito com você. Durma bem meu anjo. – A mãe dela foi saindo pela porta em direção ao corredor. Lá fora o pai de Naty pediu ao segurança só um minutinho, ele gostaria de ir se despedir da filha. Ele autorizou assim que a mãe chegou ao saguão. El saiu em direção à enfermaria em passos largos. Ao chegar à porta, olhou sua filha deitada em uma cama hospitalar num quarto cheio de pessoas doentes. Naty percebeu a presença de alguém a porta e se virou e viu seu pai ali parado, chocado. Naty acenou para ele que logo percebeu o aceno através de sua visão periférica, olhou-a e deu um sorriso e se aproximou e disse:
- Filha, tudo bem?
- Tudo pai. Estou bem.
- Que bom ouvir isso filha. Ficar lá fora é muito ruim. Mas acho que você e sua mãe têm que ter sua chance novamente. Eu sei o quanto isso é importante. – disse o pai acariciando o rosto de Naty.
- Pai, só você mesmo para me entender. Obrigado. O senhor é o melhor pai do mundo. – Naty deu-lhe um beijo no rosto e voltou a recostar-se na cama. E voltou a falar com o pai que a estava ajeitando na cama. – Pai? Acompanhe o caso do Lucas e do Greg. Por favor. Ajude-os no que puder. Eu sei que posso confiar no senhor. Me traga notícias.
- Okay filha, pode confiar. Agora descanse, tenho que ir, senão não me deixarão entrar novamente. – Ele deu um beijo nela e foi embora.
- Te amo pai! – disse ela enquanto seu pai fez um coração com a mão e mandou-lhe um beijo e saiu sumindo no corredor.
Naty estava muito cansada e aproveitou para dormir e repor suas forças. Ela sabia que tinha que carregar sua energia para poder ajudar o seu amado.
* * *
Uma escuridão assustadora envolvia aquela alma. Lucas achava que estava morto. Não sabia onde estava, mas apesar de escuro ele não se sentia mal. Uma tranqüilidade avassaladora o envolvia, bem com a escuridão. Nenhum pensamento. Nenhuma falta. Apenas silêncio. Um nirvana procurado por vários seres meditantes. Ele estava sereno. Não havia revolta, apenas aceitação de sua condição. Para ele sua missão havia acabado. Só queria paz. Ninguém poderia alcançá-lo naquele lugar. Ninguém. Pareciam séculos que ele estava ali. Ele não tinha a menor idéia de tempo. Ninguém...
* * *
O dia amanheceu e Naty foi acordada por uma enfermeira que veio trazer um remédio e efetuar os procedimentos de tirar a pressão e temperatura. Sua mãe ainda não havia chegado. Naty olhou seu celular e viu que ainda não eram 06:00 horas da manhã. Naty se sentia bem apesar do corte. Aproveitou e foi ao banheiro que ficava no corredor. Ao se levantar, notou que ainda estava com aquela roupa do colégio e a blusa com sangue seco. Não tinha como trocá-la e esperava que sua mãe se lembrasse de trazer uma muda de roupa. Também não tinha como escovar seus dentes, mas aproveitou e bochechou água mesmo. Retornou a enfermaria e ao chegar lá viu que sua mãe já estava aflita a sua procura.
- Bom dia Mãe!
- OOlá minha filha, onde você estava?
- No banheiro mãe. Eu estou ótima. – falou enquanto sua mãe a abraça fortemente. – Ei, calma mãe, você está me apertando. – disse Naty sorrindo para sua mãe.
- Tá querida. Você me parece bem. Fico muito feliz em vê-la assim. Olhe em cima de sua cama, trouxe uma muda de roupa e seu chinelo.
- Ah mãe eu sabia que podia contar com você. Obrigada. Vou aproveitar e ir novamente ao banheiro me trocar, pentear e escovar meu dente.
- Vá sim filha. Quer ajuda? – perguntou a mãe.
- Não precisa, estou bem! Sente-se e se acalme. Já volto.
- Tá bom. Estou aqui te esperando.
Naty foi em direção ao banheiro quando resolveu olhar para uma das enfermarias e viu seu namorado Greg deitado sob uma cama, sozinho e totalmente machucado. Naty ficou ali parada contemplando-o e percebeu que tudo o que ela vem passando era por causa dele. O sentimento que sentia agora por ele não era amor, talvez nunca fosse, mas era de pena. Não queria o mal dele, mas tinha certeza de que não o amava como amava o Lucas. Por um instante o fitou e depois se encaminhou ao banheiro para se trocar. Enquanto se trocava pensava em Lucas e como ele deveria estar.
Ao retornar ao seu quarto passou pela enfermaria onde se encontrava o Greg e deu mais uma olhadela e viu que ele estava se mexendo, mas não acordou. Deve ser dor, pois seu rosto apresentava certa tensão. Ele estava com soro em seu braço. Definitivamente ele estava muito machucado. Estava sem camisa e calça. Ele estava descoberto e tremendo. Ninguém para ajudá-lo. Então Naty resolveu ir até ao seu lado e cobri-lo para aquecê-lo. Enquanto Naty o cobria, ela viu o quanto ele estava machucado e com muitos hematomas.
Quando chegou a sua ala de enfermaria, sua mãe já estava com o café da manhã em suas mãos e esperando Naty chegar para servi-la. Naty sentou-se na cama e pegou a bandeja e começou a se servir. Durante o café, ela e a mãe trocavam algumas palavras sobre o incidente de ontem e Naty aproveitou para dizer que tinha acabado de ver Greg na outra enfermaria. Sua mãe levantou e foi até lá para vê-lo. Enquanto isso Naty se deliciava com aquele café da manhã. Um tempo depois o médico plantonista apareceu e começou a examiná-la. Após uma anamnese completa, o médico disse a mãe e a Naty que não seria necessário uma tomografia, pois não havia nenhum indício de traumatismo ou qualquer outro tipo de risco. Ele aproveitou e deu alta a ela e se por acaso senti-se enjoada ou se sentisse mal que retornasse imediatamente. Também disse que ela deveria retornar após sete dias para retirar os pontos. Naty aproveitou e fez umas perguntas ao médico:
- Pois não, pode perguntar. – disse ele.
- Como está o garoto da outra enfermaria que está todo machucado pela surra que levou? – perguntou ela.
- Você o conhece? – perguntou o médico, espantado.
- Sim é o meu namorado, chama-se Greg! Como ele está doutor?
- Que bom que alguém o conhece. Não tínhamos nenhuma informação sobre a família. Só diz no prontuário dele que ele estuda no colégio municipal. Ele está com muitos hematomas, duas costelas quebradas, uma pequena concussão cerebral, mas sem nenhuma gravidade. Um punho quebrado e dois dentes que deverão ser restaurados. Se você puder me dar o telefone dos pais dele, eu gostaria de falar com eles.
- Claro doutor, anote aí. – Naty passou o telefone dos pais de Greg que devem estar aflitos com o sumiço dele. Como o colégio não avisou? Pensou ela. Ela se voltou para o medico e perguntou: - O senhor soube que mais um adolescente deu entrada ontem no CTI baleado. O nome dele é Lucas e é meu amigo. O senhor sabe ou tem como saber dele?
- Naty, sei sim. Ele saiu hoje pela manhã de nosso CTI. Ele foi transferido para outro hospital. Acho que para um particular. O que eu sei é que ele está em coma e o estado dele carece de muitos cuidados. Não há como saber o que acontecerá com ele. A bala está alojada no cérebro. Não sabemos o que acontecerá com ele e quais as seqüelas ele poderá ter. O principal neste momento é mantê-lo vivo e eliminando qualquer tipo de infecção. Agora ele irá para um hospital com mais recursos e continuará a lutar por sua vida. Ele é um garoto forte.
- Eu sei doutor, ele salvou minha vida. Eu devo minha vida a ele. Obrigado. – comentou Naty com lágrimas nos olhos.
- Entendo querida. Vamos rezar por ele. Bem, agora você está liberada para ir para sua casa. Aqui está a receita com o remédio para você tomar por cinco dias e também aqui está um atestado médico para que você fique mais dois dias em casa. – o médico ia se levantando para ir embora, quando se virou para ela e falou: - Evite molhar sua cabeça. Mãe, faça pelo menos um curativo todos os dias.
- Tudo bem doutor. – respondeu a mãe dela. – Obrigado.
- De nada. Podem ir.
- Doutor? – Chamou Naty
- Sim.
- Por favor, cuide bem do Greg. Ele é um bom menino, apenas está desorientado e acho que está precisando de ajuda psicológica. – falou Naty como se fosse uma adulta.
- Cuidarei sim, mas porque um cuidado psicológico? – falou espantado.
- Eu acho que ele está consumindo drogas.
- Tá bom. Irei pedir um exame de sangue e avisarei aos pais dele. Você é uma menina corajosa e que tem um coração enorme. Fique tranqüila que o que depender de mim seu namorado ficará bem.
- Ex-namorado doutor. Eu amo o Lucas. – respondeu com convicção Naty. Tanto o médico quanto sua mãe fizeram uma cara de dúvida, mas acreditaram nela. Naty agradeceu e foi em direção a saída, onde se encontrou com seu pai que estava com um ar cansado. Ele a abraçou e beijou e depois seguiram para casa. Durante o caminho ela pediu ao pai que ao invés de ir para casa a levasse para a escola. Ele relutou um pouco, mas ele e sua mulher concordaram em acompanhá-la até a escola.
Após alguns bons minutos chegaram à escola. Haviam muitos pais, repórteres na frente da escola. O pai de Naty estacionou o carro um pouco mais adiante. Ao chegarem na escola, foram recepcionados pela coordenadora.
- Oi Naty minha querida. – A coordenadora Lilian a abraçou e começou a chorar.
- Estou bem Dona Lilian. Eu vim aqui para saber se a senhora sabe onde o Lucas está internado. Ele saiu hoje pela manhã do hospital estadual e foi para um particular. A senhora sabe pra onde ele foi? – questionou Naty a coordenadora.
- Não querida. Ainda não sei, mas ligaremos hoje para a mãe dele e assim que soubermos avisaremos.
- Obrigada. Posso falar com a Laryssa?
- Querida, ela está em aula.
- Dona Lilian é muito importante. Eu preciso mesmo falar com ela.
- Tá bom querida, mandarei chamá-la.
- Posso usar sua sala para conversar com ela a sós?
- Pode sim querida.
- Obrigada. – disse Naty já se encaminhando em direção a sala da coordenadora.
Neste momento, todas as turmas estavam em aula. Apesar de ter tido acontecido um grande terror a tarde de ontem, a direção e a secretaria municipal de educação resolveram em conjunto manter as aulas. Haviam dois carros da policia militar na frente da escola.
Naty chegou à sala da coordenadora Lilian e se sentou na cadeira onde já havia sentado outras vezes. Poucos minutos depois Laryssa entrou na sala e parou ao ver sua rival ali parada a sua frente, trajando uma roupa não escolar e de sandálias havaianas. Depois olhou para os lados e perguntou:
- Onde está à coordenadora Lilian?
- Ela não está aqui. – respondeu Naty.
- Então não estou entendendo nada. – retrucou Lary.
- Fui eu quem a chamou. Preciso muito falar com você, Lary.
- Continuo sem entender. O que você pode querer falar comigo? – questionou Laryssa.
- Laryssa, acredito que você não está sabendo sobre o que aconteceu comigo e Lucas. Eu queria ser a primeira a vir falar com você. – argumentou Naty.
- Naty, não me interessa esse assunto. É um problema de vocês dois. Eu não sou mais namorada dele ... – Naty cortou a Laryssa com certa imposição
- Laryssa me ouça e depois você decide o que fazer. – Naty olhou firmemente para Laryssa que concordou em ouvi-la. Continuou: - Ontem Greg foi espancado na praça em plena manhã. Eu vi tudo acontecer e perdi os sentidos. Como um milagre, Lucas apareceu e foi me resgatar daquele lugar. Os traficantes perceberam e foram atrás da gente. Lucas me carregou no colo até onde pode, aí fomos ajudados por um senhor que mora aqui perto da escola. Ele nos trouxe aqui. De repente, pedras foram jogadas por cima do muro e chegou a machucar algumas pessoas. Quando saí do carro para ir em direção do prédio, enquanto a polícia não vinha, eu tropecei e caí no chão. Lucas que já estava no portão, saiu correndo em minha direção e aí eu ouvi um tiro vindo do portão principal. Comecei a correr mais, aí ouvi outro tiro e logo vi Lucas sendo jogado para trás e um grito ecoou em meu ouvido... – foi interrompida por Lary.
- O que? O meu Lucas foi baleado? Onde ele está? Você é culpada por ele estar machucado. – totalmente descontrolada Laryssa andava de um lado para o outro. Seus olhos estavam encharcados de lágrimas e seu semblante expressava sua raiva pela Naty. Naty falou:
- Laryssa, também não estou me sentindo bem com tudo isso. Ele está lutando para ficar vivo. Ele está em coma em algum hospital particular. Sofremos um atentado! Você está me ouvindo! Traficantes balearam o nosso Lucas. – quando Naty relatou isso, Laryssa caiu em prantos. Naty continuou: - Ele está em coma e seu estado é muito grave.
- Onde ele está? Diga! – perguntou aos prantos Laryssa.
- Não sei em que hospital ele está. Só o que sei é que ele precisa de nós duas. Ele está perdido e sozinho, só o amor pode salvá-lo senão ele vai morrer. – Laryssa a encarou sem entender o que Naty havia falado, apenas sobre o negócio do amor que podia salva-lo. Por um tempo o silêncio foi instaurado naquela sala. Ambas se olhavam e se analisavam. Naty estava muito cansada e Laryssa perplexa com toda essa história. Após um tempo, Laryssa resolveu sair do estado choque e falou:
- Naty, eu não gosto de você. Você roubou o meu amor, o meu Lucas. – Naty retrucou:
- Eu não roubei ning... – foi cortada incisivamente por Laryssa:
- Cala a boca Naty, não adianta se fazer de santinha. Eu sei que você ama o Lucas. Eu sabia desde o começo. Ele também amava você e era por isso que eu sempre tive raiva de você. Ele tentou me amar, mas não conseguiu. Você o enfeitiçou. Agora veja como ele está. Está em coma, por sua causa. O que você quer de mim Naty? Veio me torturar? – Laryssa aos prantos.
Naty respondeu:
- Eu entendo o que você está sentindo. Eu estou aqui para pedir sua ajuda. Ele precisa de nós duas. Nós poderemos salvá-lo, mas ficar aqui discutindo não o ajudará. Vamos nos unir em prol dele. Eu descobri que o amo, mas se ele quiser ficar com você eu juro que não irei atrapalhar. O que eu quero é apenas salvá-lo. Por favor Laryssa, me ajude a ajudá-lo.
- O que quer que eu faça? – respondeu Laryssa, mas menos agressiva.
- Vamos descobrir onde ele está internado e vamos para lá juntas. Vamos ficar ao lado dele. Eu sei como tentar contatá-lo. Eu não sei qual a sua religião, mas isso não me interessa neste momento, o que interessa é que ele precisa de nós duas juntas.
- Naty, você anda lendo muito os livros de Meg Cabot, as histórias de uma tal de Suzzana, uma mediadora que fala, toca,vê os espíritos e os manda sei lá para onde através de muita porrada. Eu não sou nenhum tipo de mediadora e muito menos acredito nisso.
Naty se aproximou de Laryssa e disse:
- Acredite em seu amor por ele Laryssa, ele nos sentirá lá. Acreditar é a única coisa que peço. – Essas palavras mexeram com Laryssa. Ela se levantou e disse:
- Tá bom. Eu vou ajudá-lo no que puder. Eu o amo demais. Não quero carregar esse fardo de não ajudá-lo. Eu vou com você. Mas como iremos saber onde ele está?
- Laryssa, você não tem o telefone da mãe dele ou de alguém da família dele? – perguntou Naty.
Laryssa pensou e disse que só tinha o telefone da Rhaissa que era a melhor amiga dele. Naty se lembrou de sua amiga Rhaissa e disse:
- É claro, Rhaissa, como não pensei nela.
- Você conhece Rhaissa? – questionou Lary a Naty.
- Sim, ela é uma grande amiga. Vamos ligar para ela. – comentou Naty. Laryssa estava estupefata com a notícia que a melhor amiga de seu ex-namorado era também a melhor amiga de sua rival.
Naty pegou o celular e começou a procurar o telefone da Rhaissa na lista de contatos. – Achei. – disse Naty. – Vou ligar agora. Que bom tá chamando. Vou colocar no viva voz para você também poder ouvir. – continuou a comentar. – Alo! Rhaissa? Olá é Naty!
- Olá minha linda, como você está? – disse Rhaissa
- Eu estou indo! Mas o ... – Naty foi cortada por Rhaissa
- O que houve Naty? – perguntou Rhaissa com muita preocupação.
- Pelo jeito você ainda não está sabendo.
- Sabendo o que? Você está me deixando preocupada. O que houve?
- O Lucas foi baleado e está em coma.
- O que você está me dizendo? Lucas está em coma? – do outro lado da linha Rhaissa estava aos prantos. Uma amiga desesperada.
- Calma amiga. Eu estou te ligando para saber se você sabe onde ele está internado.
Laryssa fungou e disse: - Querida, eu irei falar com a tia, mãe dele, para saber onde ele está e te retorno já já.
- Amiga estarei esperando o seu retorno com muita urgência. Ele precisa de ajuda. – falou Naty
- Pode deixar, eu já retorno. Beijos amiga.
- Força querida. – quando Naty terminou, o sinal de ocupado ecoou no viva voz. E Naty falou para Lary:
- Laryssa, só nos resta esperar e rezar. – Laryssa balançou a cabeça afirmativamente, concordando com Naty. Os minutos pareciam horas de espera. Naty olhava para o seu celular incansavelmente e nada de retorno. Nesse meio tempo a coordenadora Lilian e os pais de Naty chegaram a sala da coordenadora onde as duas meninas estavam esperando uma ligação. Elas nem perceberam a entrada dos três, até que a coordenadora falou:
- E aí meninas?
Laryssa deu um pulo para frente e disse: - Que susto coordenadora.
- Desculpe-me criança, não foi minha intenção. – disse a coordenadora.
Respondeu Lary: -Tá b...
O celular tocou e Naty acenou com a mão para que parassem de falar. Ela colocou no viva voz novamente:
- Alo Rhaissa, e aí conseguiu saber onde ele está internado?
- Sim querida. – respondeu Rhaissa ainda chorando muito. – Ele está no Hospital Sírio-Libanês no CTI. Você sabe onde é Naty? – perguntou Rhaissa. Um alvoroço na sala se fez presente e Naty com muita propriedade disse:
- Espera aí Rhaissa. Vou perguntar. Pai você sabe onde fica esse hospital?
- Sei sim, fica no bairro Bela Vista. – comentou o pai de Naty.
- Certo tio. Isso aí mesmo. Naty, estarei indo agora pra lá. E você vai lá?
- Sim, vou sim. – Naty disse olhando para os pais que concordaram imediatamente.
- Okay, te vejo lá meu anjo. Beijos.
- Beijos. – Naty desligou o telefone e disse para Lary: - Você vai comigo? Se sim é melhor ligar para seus pais primeiro.
- Vou sim. Espere um instante. Vou pegar minhas coisas na sala e já volto.
- Tá bom, eu estou aqui te esperando. – disse Naty para Laryssa.
* * *
- Lucas! – uma voz chamou a atenção dele. Sem uma orientação, Lucas esperou um novo chamado que logo aconteceu: - Lucas! – A voz masculina ecoou em sua mente. A voz era conhecida, mas ele não conseguia identificar. Talvez nesse lugar onde ele se encontrava, as lembranças poderiam ser mais difíceis de se ter. Novamente a voz masculina falou: - Meu filho. – Lucas teve uma estranha sensação de que aquela voz era do seu pai. Ele respondeu:
- Pai? É você? – perguntou ele. Um silêncio se fez. Nenhum retorno. Apenas silêncio e escuridão.
* * *
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