sexta-feira, 30 de abril de 2010

  • Capítulo 3



A casa da Priscila se situava em uma rua calma, um raro lugar em uma metrópole como São Paulo, talvez fosse a mais conservada daquela rua. Tinha um muro baixo com um portão de ferro pequeno, pintado de branco que dava pra rua. Ao transpassar o portão, havia um pequeno quintal com flores e um pequeno caminho que levava a uma varanda extremamente aconchegante, onde Lucas e Priscila ficavam sentados por horas conversando e namorando, na qual ela o chamava de cantinho do amor incondicional.

Priscila sempre muito romântica adora músicas principalmente as românticas e sempre associa um momento importante de sua vida a uma música. Sua música preferida é You're Still The One (Você ainda é o único) de Shania Twain. Ela dedicou essa música ao seu namorado Lucas, como sendo a música deles, pois quando ele a pediu em namoro, um carro passou tocando essa música nas alturas.

Sua casa tinha uma sala agradável com móveis charmosos e hiper modernos. Seguindo em frente havia um corredor onde leva aos dois quartos e uma suíte e um banheiro. A suíte é dos pais dela, o quarto do meio é o da Priscila e o outro é de seu irmão Fábio Ramos Albuquerque. O quarto de Priscila, um quarto de menina adolescente com direito a pôsteres de se seus ídolos os McFly, Shania Twain e além é claro de um quadro de cortiça onde ela colocou fotos da família e de seu namorado Lucas ao seu lado com um coração vermelho em volta deles. Lucas só entrou nesse quarto uma única vez e ficou maravilhado com o quarto. Também tinha um computador, que ela usava para fazer pesquisas e principalmente para conversar com o Lucas quando não estavam juntos e seus amigos.

Apesar de namorarem a quase seis meses, eles nasceram um para o outro, pelo menos era o que a família dela comentava. Lucas sempre foi muito atencioso e amigo de Priscila. Ela estava completamente apaixonada por ele e ele por ela. Talvez tenha sido amor a primeira vista.

A mãe e o pai de Lucas conheciam a família de Priscila, pois havia levado e buscado ele várias vezes na casa dela, como também os levou diversas vezes para o Shopping Center Norte, que além de ser perto de casa, era o point da garotada daquela região onde moravam.

A mãe de Lucas sabia o quanto seu filho era apaixonado por aquela menina, apesar de achá-lo ainda uma criança. Na verdade, a maioria das mães, acham seus filhos imaturos para amar nesta idade.

Lucas e Priscila tinham uma ligação quase sobrenatural, parecia que um sabia o que o outro estava sentindo. Lucas sabia que algo havia acontecido com Priscila. Ele tentava não pensar no pior, mas estava tudo estranho. E perguntou novamente ao irmão dela.
- Fábio, ô meu, para de me assustar, o que houve com ela mano? Fala! – insistiu Lucas, mas já com uma voz de desespero.

- Irmãozinho. – Fabio chamou Lucas carinhosamente, mas com um ar totalmente fúnebre, continuou falando, já apoiando as mãos nos ombros de Lucas.

– Pri chegou em casa correndo e estava Bran... - Lucas cortou Fábio dizendo:

- Ô meu! Eu vi um corpo coberto lá atrás e cheio de viatura em volta e também disseram que uma mina havia sido baleada. Mi..minha Pri está ferida? Qual o trampo? – disse Lucas já gaguejando e seus olhos já se enchendo de lágrimas. Neste momento Fábio o abraçou e continuou a falar.

- Calma irmãzinho, como eu disse ela chegou aqui em casa branca como a neve e muito assustada e foi correndo para seu quarto. Eu estava aqui na sala deitado no sofá, esperando a mãe chamar para bater uma chepa, para depois tirar um trampo, quando ela chegou. Tipo, brincando perguntei a ela se ela tinha visto um ghost. Mas ela não me respondeu e foi correndo para o quarto dela. Então, tipo levantei e quando olhei para o chão, mano, vi pingos de sangue. Comecei a chamar a mãe que estava em casa e é médica e fui direto para o quarto da mana. – neste momento, Lucas estava completamente transtornado e aflito. Chorava sem fazer barulho. As lágrimas escorriam de seus olhos sem o menor esforço. Fábio continuou falando de uma forma muito lenta.

- Mano, quando abri a porta ela estava deitada na cama com uma puta poça de sangue a sua volta, foi cabuloso. Orra Meu! Tipo, até nesse momento mano não tava eintendendo nada. Minha mãe me empurrou e começou a gritar para que eu ligasse para o pronto-socorro e pedisse uma ambulância. Meu, eu vi a coisa preta, minha mana ali deitada, parecia morta, mas a mãe disse que ela tava viva. Tipo, assim saí correndo para fora de casa pedindo help e logo os visinhos vieram ajudar. O mister Lopes, o nosso visinho, levou a Pri para o hospital sem esperar a ambulância.

Lucas ajoelhou na calçada, quando ouviu a palavra hospital e começou a chorar durante alguns minutos. E depois olhou para cima e falou.
- Orra Meu! Por que deixei a minha pequena voltar sozinha. Puta que pariu! Por que não aconteceu comigo? Ela não! Ela não! – ele levantou aos prantos e fez uma série de perguntas ao Fábio:

- Qual hospital? Por que você não foi? Meu! Vamos lá ao hospital, agora! – Lucas falou gritando.

- Meu! Vô kolá no hospital com você. Eu fiquei esperando você chegar para te falar e ir com você lá. Vamos vazar.

Os dois saíram em direção ao ponto de ônibus. Fábio tentou ligar pelo seu celular para a mãe para saber onde ela estava e como estava sua irmã. Ele conseguiu apenas falar com o pai, o senhor Osvaldo, que também já havia chegado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP que fica na Av. Dr Enéas C Aguiar, 255. Sabendo onde deveriam ir, pegaram imediatamente o busão 119P-10 e depois o 701U-10.

Ao chegarem lá, após longos 62 minutos, foram procurar a emergência do Hospital, que estava lotada. Acharam o pai da Pri conversando com dois homens que eram da polícia civil de São Paulo.
- Pai! Pai! – Chamou Fábio.

- Oi filho! Que bom que você chegou, aliás vocês dois chegaram, olá Lucas.

- Senhor Osvaldo, como está Priscila?

- Meu filho, ela está sendo operada neste instante. Ela recebeu um tiro no peito, e os médicos acham que perfurou o pulmão dela. – comentou o senhor Osvaldo e ainda murmurou. - Meu Deus! Por favor, proteja minha filhotinha. – com lágrimas nos olhos.

Ambos os garotos se entreolharam completamente perplexos e receosos de que algo ruim pudesse acontecer com Priscila.

Na emergência não havia lugar desocupado para sentar. Lucas não parava de ficar pensando o porquê havia acontecido aquilo com uma menina tão doce. Era injusto tudo aquilo. Porque ele não a havia levado para casa? Lucas se culpava e se martirizava a cada segundo. A mãe dele acabara de chegar ao hospital e os vira ali em pé completamente atordoados.
- Oi filho, como você está? – Perguntou Sra. Célia, mãe de Lucas, abraçando-o. Lucas meneou a cabeça erguendo os ombros. Ela olhou em direção do Osvaldo e lhe disse:

- Sinto muito Osvaldo, como ela está?

- Ainda está sendo operada, eu acho. Não temos nenhuma notícia até o momento. Raquel está lá em cima acompanhando a filha. – Comentou ele.

- Ainda bem que sua esposa é médica e estava em casa. Vai dar tudo certo. Vamos pedir a Deus Nosso Senhor uma Graça.

Os minutos passam lentamente, as horas seguintes uma tortura para todos. Após 4 horas e 47 minutos desde o início da operação, a mãe de Priscila apareceu e nesta hora todos estavam atentos ao que ela iria comunicar.
- Meus amados, nossa princesa se foi. Ela não resistiu e perdeu muito sangue. Os médicos fizeram de tudo para salvá-la. - a mãe de Lucas o abraçou com força e o deixou chorar em seu peito.

No enterro de Priscila a família Ramos de Albuquerque estava inconsolável, haviam perdido sua princesa. Uma menina cheia de sonhos e cheia de amor por um rapaz digno e que a amava muito. O enterro aconteceu após a autópsia do I.M.L. (instituto médico legal) no dia seguinte a morte dela. Dia 01 de outubro.

A família de Lucas apoiou o menino levando-o para um psicólogo. Mas ele não conseguiu seguir adiante na escola e com isso repetiu de ano. Seus pais decidiram mudar de bairro e trocar o Lucas de escola. Sua mãe foi fundamental no processo de trazê-lo de volta a vida. (Continua...)

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