segunda-feira, 24 de maio de 2010

  • Capítulo 7



Lucas estava introspectivo, se achando um idiota completo, por ter imaginado que ele e Naty teriam um relacionamento amoroso. Sentado em sua janela, contemplava o céu completamente nublado e pronto para chover, São Paulo parece que consegue ter as quatro estações no mesmo dia, pensava ele. Olhava as casas, os prédios, mas inteiramente fora dali, tentando de alguma forma a contatar a sua querida amada Priscila. Começou a conversar com ela mentalmente e de alma, como sempre faz em todos os momentos de aflição, era assim quando ela era viva e continuou após a sua perda. É um momento muito especial, pois de alguma forma, acredita que a Priscila está ali ouvindo suas súplicas.

* * *
Desde a morte de Priscila, Lucas é acompanhado semanalmente por um psicólogo, o doutor Alexandre Reis, renomado psicólogo infantil e de adolescentes, formado na Universidade Federal de São Paulo (USP), com mestrado e doutorado na Universidade de Cambridge (University of Cambridge), na Inglaterra, em traumas emocionais em crianças e adolescentes.


Dona Célia, sua mãe, o colocou sob acompanhamento psicológico, após ser chamada no colégio, escola anterior, pela coordenadora. No dia marcado, durante o horário escolar, a mãe de Lucas compareceu para a conversa com a psicopedagoga que era a coordenadora pedagoga e talvez a diretora.


Após a morte da Priscila, sua mãe sabia que ele estava deprimido, mas não imaginava que duraria tanto tempo e que afetaria sua performance na escola. Ela o sentia infeliz e perguntava pra ele o que ela podia fazer para ajudá-lo. Mas seu silêncio era a resposta ou no melhor dia, ele dizia que ela não podia fazer nada só o tempo.


Dona Célia sentou-se em uma cadeira estilo antigo, mas super confortável, que fica à frente da mesa da coordenadora e psicopedagoga da escola. Tinha um olhar calmo e uma voz suave e chamava Lucy Braga, mas os alunos a chamavam de tia Lu. Lucy aparentava uns 52 anos de idade, um pouco de cabelo grisalho, altiva e parecia muito preocupada em como falar com a mãe de seu aluno, sentou-se sua mesa e começou a se apresentar.


- Bom dia dona Célia, é um prazer conhecê-la e muito obrigado por ter atendido nosso chamado com rapidez.


- O Prazer é meu dona... – respondeu Célia quando foi interrompida pela coordenadora.


- Lucy. Eu me chamo Lucy Braga e sou psicopedagoga, responsável pelo bem estar dos alunos. Meu trabalho é orientar os alunos, ajudá-los a superar problemas emocionais, ser orientadora vocacional e ainda lidar com as dificuldades psicológicas dos alunos.


- Sim eu sei, mas o que está acontecendo com meu filho, Lucy? – falou Célia com um ar meio tenso e apreensivo.


- Calma mãe. Vou lhe explicar o motivo de ter lhe convocado para esse bate papo. – falou Lucy com calma e serenidade, tentando também acalmar a mãe de Lucas e continuou a falar, enquanto a Célia estava com olhar fixo em Luy.


- Senhora Célia, seu filho nos preocupa muito, pois ele é um excelente aluno e sempre teve excelentes notas e principalmente um comportamento exemplar. Na reunião mensal dos professores com a coordenação, todos eles trouxeram o nome do seu filho a pauta e dizem que estão muito preocupados, pois ele não está conseguindo acompanhar a turma. Está acompanhando mãe? – perguntou a psicopedagoga.


- Sim, por favor, continue. – replicou dona Célia


- Apesar de ele estar fisicamente na sala de aula, na verdade sua mente está em outro lugar. A senhora pode nos dizer se está acontecendo algo em sua casa? – Perguntou a psicopedagoga.


Neste momento, quando a mãe de Lucas ia responder, a porta da sala se abriu e entrou uma senhora alta, bem vestida, com um ar superior, bem maquiada e aparentava uns sessenta anos ou um pouco menos. Neste momento a doutora Lucy se levantou e cumprimentou a diretora do colégio a senhora Elizabete Fungs.


- Bom dia, Elizabete. – disse a coordenadora.


- Bom dia, Lucy. – e nesse momento se virou para a mãe de Lucas e estendeu a mão na direção dela e a cumprimentou.


- Essa é a diretora Elizabete Fungs e essa é a senhora Célia, mãe do nosso Lucas. – apresentou a psicopedagoga. Todos se sentaram. A diretora estava sentada ao lado da doutora Lucy e de frente para Célia. Lucy fez um review e depois perguntou novamente a mãe do Lucas sobre se havia acontecido algo em sua casa, ou se saberia explicar o que estava acontecendo com seu filho.


Neste momento, Célia ficou por alguns longos segundos sem falar nada, tentando entender o que estava acontecendo ali. Por que estavam perguntando isso a ela? Será que o filho estava encrencado? Aí ela resolveu sair do silêncio e olhando fixamente para as duas mulheres a sua frente disse:


- Se vocês querem saber se está tendo algum tipo de desavença entre eu e meu marido, a resposta é não. Se vocês querem saber se eu tenho percebido meu filho diferente, então a resposta é sim. – disse ela com os olhos cheios d’água e continuou com o mesmo tipo de postura.


- Depois da morte da Priscila, eu comecei a notar que ele estava muito introvertido e não sorria mais como sempre fez. Não saia mais, fica a maior parte do tempo em seu quarto. – Já em lágrimas, Célia chorava sem dar um soluço. Apenas as lágrimas rolavam em sua face sem que pudesse contê-las.


A diretora do colégio posou a sua mão no braço da doutora Lucy e disse.


- Célia, na verdade não sabemos também o que está havendo com seu filho. O que constatamos é que os professores estão nos informando diariamente que o Lucas está completamente perdido, não responde as perguntas em aula, não sai da sala de aula durante o horário do lanche, ficando lá quieto e inerte. Seus colegas de turma também estão preocupados com ele. – Disse a diretora. A psicopedagoga continuou a falar.


- Querida Célia, vamos juntas tentar descobrir o que seu filho tem, já que a mudança dele só ocorreu depois da morte da menina Priscila. Eu conversei com seu filho por mais de duas horas. Quero dizer que me pareceu mais um monólogo do que um diálogo. Seu filho apenas dizia que não confiava mais em ninguém e que não acreditava mais no amor. Por isso resolvemos chamá-la aqui para saber se estava acontecendo algo com a senhora e seu marido. Nós desconfiávamos que o problema fosse à morte da Priscila, mas como ele mencionou que não acreditava mais no amor, aí pensamos que poderia haver mais problemas. Célia querida perdoe-nos por tirarmos conclusões sem apurar. – pausou ela pensativa e continuou enquanto a diretora do colégio e a mãe de Lucas aguardavam fitando-a.


- Bem, esse tipo de postura que seu filho apresentou é características de adolescentes com problemas de relacionamento familiar, ou seja, de famílias que estão a beira de uma ruptura, uma separação, entendeu dona Célia? – Perguntou a doutora. Célia balançou a cabeça respondendo que havia entendido e assim Lucy continuou.


- E como não sabíamos se o fato era a morte da Priscila ou se havia algo a mais, por isso resolvemos chamá-la para tentarmos entender melhor os fatos. Estamos perto do final de ano e se continuar assim seu filho irá repetir de ano. – Neste momento, a mãe de Lucas, falou soluçando:


- E...E...Entendo. – disse a mãe de Lucas chorando mais intensamente.


A diretora pediu a palavra à psicopedagoga.


– Mãe, acredito que ainda temos chances de reverter esse fato, mas posso garantir que dependerá mais dele do que de nós. O Lucas tem uma bolsa de estudos conosco e para continuar a mantê-la será necessário que ele passe de ano e mantenha suas médias dentro do normal. – A dona Célia meneou a cabeça e perguntou.


- O que posso fazer? É só me falar que eu faço. Por favor, me ajudem a ajudar meu filho. Ele é tudo para mim e meu marido. – já aos soluços, a mãe continuou a falar. - Ele é um bom menino, isso nunca aconteceu, mas como curar uma ferida tão grande como a perda de um amor, principalmente um adolescente? Ele sempre foi muito bem nos estudos, é um bom filho e sei que sempre foi dedicado a tudo, nunca me trouxe problemas. – nesse momento ela estava tão cansada de chorar que não conseguia mais falar, só balbuciava.


As duas mulheres que estavam ali olhando para aquela cena, ficaram sensibilizadas com o que aquela mãe havia dito que não sabiam o que falar ao certo. Mas como uma excelente profissional, a doutora Lucy pediu para que a Célia tentasse ouvi-la. Célia balançou sua cabeça para frente e para trás em sinal de afirmação, mas sem parar de chorar, prestava atenção na doutora que iniciava sua fala.


- Minha querida chore. Chorar faz a gente acalmar. Bem acho que temos que agir. Acredito que sua família não possa arcar com à custa de um psicólogo. – disse a doutora esperando a confirmação, da mãe daquele aluno, que logo aconteceu e então continuou.


– Tenho um amigo que é psicólogo infantil e que já está por dentro do caso e a pedido meu, aceitou avaliar o Lucas. O nome dele é doutor Alexandre Reis e o endereço dele é na rua Cerqueira César na esquina da Avenida Paulista, está aqui o cartão dele com o endereço. – a doutora Lucy lhe passou o cartão enquanto levantava e se dirigia até ela.


- Não sei como agradecer as senhoras pelo que estão fazendo pelo meu filho. – agradeceu Célia.


- Mãe! Gostamos muito do seu filho, ele é um excelente aluno e uma e grande pessoa e não queremos vê-lo perdido ou em depressão. O importante aqui não é salvar o ano dele, mas sim ajudá-lo a superar esse momento, antes que seja tarde. Aqui na escola, iremos acompanhá-lo com mais atenção. Fique tranqüila. Apenas leve-o para essa avaliação o mais rápido possível, ok? – perguntou a diretora.


- Sim, vou ligar para o psicólogo hoje mesmo. Muito obrigado pelo carinho, não sei como agradecer... – dona Célia foi cortada quanto estava se levantando para ir embora pela psicopedagoga.


- Célia, ligue o mais rápido possível para o Doutor Reis, quem sabe ele não consiga um horário para o Lucas essa semana e por favor, explique ao Lucas o que ele vai fazer em um psicólogo, seja franca com ele, mas não o obrigue, então só marque a consulta após conversar com seu filho. E outra coisa, nos mantenha informadas de todos os passos, para que possamos também interagir no tratamento dele.


- Tá bom, manterei vocês sempre informadas. Muito obrigado mais uma vez. – falou Célia dando um beijo no rosto de cada uma das mulheres e despedindo-se.


* * *
Apesar do Lucas ter aceitado ser acompanhado por um psicólogo, isso não o fez passar de ano letivo e com isso teve que sair da escola particular onde tinha uma bolsa total de estudos. Como sua família não tinha condições de mantê-lo em uma escola particular, foi decido colocá-lo em uma escola pública municipal, que é a atual escola dele e da Naty. As consultas com o psicólogo se tornaram difíceis de manter, pois eram caras apesar de boas para ele. Lucas sempre saía do consultório, após a seção com um ar aliviado. Tinha o doutor Reis como um amigo de muitos anos e Lucas confiava demais nele.


Dona Célia, conversou com o doutor Alexandre Reis e comentou que não poderia pagar a consulta, já que o seu filho havia perdido o ano letivo e o colégio não se responsabilizaria mais pelo tratamento dele e que achava justo isso. Também comentou que era muito grata pelo que ele havia conseguido com seu filho em tão pouco tempo. Doutor Reis falou:


- Dona Célia não gostaria de interromper o tratamento do seu filho, pois isso poderá trazer conseqüências piores. Gosto muito do seu filho e acho que posso continuar o tratamento dele sem ônus para a sua família.


- Doutor o senhor tem um coração de ouro, mas não posso aceitar isso, não é justo com o senhor. – disse a Dona Célia com os olhos cheios de lágrimas.


- Senhora, não se preocupe com isso, eu insisto em continuar o tratamento do Lucas, ele é um bom garoto e o tratamento não será tão longo. Por favor, eu insisto em continuar, dona Célia, mas preciso de sua autorização como responsável. – completou o doutor Reis.


- Não sei como agradecer tanta bondade. Tá bom, tudo pelo bem do meu filho. Doutor muito obrigado pelo carinho que o senhor tem pelo Lucas. – comentou dona Célia muita emocionada.


- Dona Célia, não foi nada. É minha obrigação ajudá-lo. Então estamos entendido, e Lucas continuará o seu tratamento normalmente. – falou o doutor já levando a mãe de Lucas para a porta de saída do consultório.


- Muito obrigado por tudo doutor, Deus lhe ajudará muito. Até breve. – disse Célia sorrindo e se despedindo.


- Até breve. – comentou o doutor Alexandre.


* * *
A noite foi aterrorizante para Naty, chovia e trovejava demais, uma chuva pavorosa na cidade de São Paulo, Naty dormia inquieta, rolava de um lado para o outro, estava sonhando com alguém a perseguindo, ela corria pela rua e seu raptor a sua espreita. Ela não sabia quem era, pois só conseguia ver uma silhueta, uma sombra. Naty correu tanto que avistou o shopping Penha que fica na rua Dr. João Ribeiro, seguiu desesperadamente na direção dele. Parecia tão longe para ela. Corria muito e olhava sempre para trás para ver se aquele Ser ainda estava em sua captura. Naty estava cansada e perdendo as forças quando viu que estava bem próximo da entrada principal daquele shopping Center, que tem uma faixa linda com toldos de vidro e com letreiro do supermercado do lado esquerdo, o logo do shopping no centro e um letreiro rosa de uma loja de roupas femininas. Tem duas colunas imponentes rodeadas de vasos de plantas. Naty em seu sonho entrou pela porta e foi direto para uma das escadas rolantes. Não havia ninguém no shopping, apenas ela. Ela subia desesperada enquanto olhava para trás e para baixo enquanto subia a escada e naquele momento não via mais ninguém atrás dela. Quando chegou ao segundo andar do mezanino do shopping ela parou de repente e viu a sua frente um garoto que estava com as mãos esticadas em sua direção. Naty pensava, eu o conheço, ele é o Lucas! O que ele está fazendo? Porque me chama? Naty estava tão cansada que começou a balbuciar algo que era incompreensível, quando de repente alguém pega em seus braços e a balança para frente e para trás e ela grita e ao mesmo momento acorda com sua mãe segurando seus braços e falando com ela algo que não compreendeu. Sua mãe a balançava como uma desesperada, neste momento seu pai entrou no quarto e puxou a sua mulher e a mandou para o quarto enquanto acalmava sua filha.


- Naty querida, calma, foi um pesadelo. Beba sua água. – disse o pai


Naty estava voltando a si e começou a chorar. Seu pai a consolava abraçando-a e afagando seus cabelos.


- Calma querida, beba um pouco de água. – consolava o pai


- Ooo..obrigado pai. – dizia enquanto bebericava a água que seu pai trouxe.


- Filha minha, foi um pesadelo ruim, procure beber a água e volte a dormir. Reze e peça proteção. – neste momento o pai de Naty deu um beijo em sua testa e se levantou e ajudou-a a se deitar cobrindo-a e dando mais um beijo em sua cabeça e disse:


- Durma bem querida, eu afastei os maus pensamentos. Durma com os anjos.- Naty olhou para ele e disse:


- Pai! Muito obrigado, você é um pai maravilhoso. Te amo muito.


- Também te amo muito filha. – disse seu José Antonio, enquanto apagava a luz do quarto e ia saindo pela porta.


Naty ainda ficou um pouco acordada, mas o cansaço era grande. Sábado, o dia em que Naty tem um encontro com Greg no Shopping Center Penha à tardinha. Para sua família ela irá com sua amiga Rhaissa.


Naty estava preocupada com o tempo. Sua mãe a colocou para arrumar a casa toda de manhã sem acordo e a condição de sair com a Rhaissa era estar tudo limpo inclusive os banheiros. Sua mãe gosta da casa limpa e não aceita bagunça. Desde os doze anos, Naty é obrigada a fazer faxina na casa enquanto sua mãe vai para o salão de beleza. Todos os sábados são iguais, exceto quando sua família viaja de férias. Ao chegar do salão de beleza, verifica o trabalho de sua filha e se algo não estiver bom ela briga com ela e a põem de castigo.


Naty não queria ficar de castigo naquele sábado e acordou cedo e começou fazendo o café da manhã para todos e iniciou sua jornada de limpeza. Ao final da tarde, o tempo estava um pouco melhor, chovia, mas não a cântaros. Ela já havia ligado para sua amiga e combinado que a mãe de Rhaissa irá passar lá as 17:00 horas.


Quando era 16:50 horas Naty estava pronta e sentada no sofá da sala, que era preto de courino, era um tipo de couro sintético, de três lugares. Seu pai estava vendo televisão, jogo de futebol e estava no sofá de dois lugares ao lado do de Naty. Seu pai estava ali totalmente ligado no jogo e estava com um copo de cerveja em suas mãos. Na mesa de centro tinha um prato com petiscos que ele colocou lá e umas três latas de cerveja já abertas e possivelmente vazias. Naty estava ansiosa, esse seria o seu primeiro encontro com um garoto. Alguns minutos depois, uma buzina foi tocada do lado de fora da casa. Era a Rhaissa e sua mãe que haviam chegado. O pai de Naty nem se abalou. Naty se levantou e foi em direção ao seu pai, deu um beijo e este retribuiu com um sorriso e ao mesmo tempo colocou a mão em seu bolso e tirou um bolo de notas e pegou uma nota de vinte reais e duas de cinco e deu a sua filha. Naty pegou e agradeceu ao pai com outro beijo, virou-se e foi em direção a porta e no mesmo momento gritava:


- Mãe, estou indo para o shopping com Rhaissa. A mãe dela já está aí.


- Eu sei, também irei com vocês ao shopping. – rebateu sua mãe que já estava pronta e indo em direção a porta.


Naty congelou. Não sabia o que falar. Sua mãe continuou.


– Ué! Parece que viu um fantasma menina! Você anda muito estranha. Cruzes! Parece até sua avó. Vamos embora que Lúcia e sua amiguinha, estão esperando. Tchau querido! – falou olhando para o marido que olhou em direção a porta e viu que sua mulher estava pronta e saindo com sua filha. Percebeu que estava algo errado com sua filhinha. Mas não sabia bem o que era. E sua mulher continuou.


- Querido, tome conta do Pedrinho que está no quarto brincando. Só volto mais tarde com a Naty, se virem com o lanche. Beijinhos. – se virou e foi saindo porta a fora empurrando a Naty.


- Oi Cecília! Oi Naty! – falou a Lúcia, mãe de Rhaissa, que estava dentro do carro olhando para a Naty totalmente desolada.


- Olá querida, obrigado por me convidar, eu estava precisando dar um voltinha e mudar de ares, hahaha. – falou rindo e piscando o olho para a Lúcia e continuou a falar. – Vamos então nos divertir. Naty estava triste, sua alegria havia esvaído. No carro não podia comentar nada com sua amiga.


O shopping era perto, mas parecia uma eternidade chegar. Naty estava calada e Rhaissa tentava puxar assunto, mas ela percebia que sua amiga estava desesperada. Rhaissa em um momento chegou perto do ouvido da Naty e sussurrou:


- Deixa comigo amiga, vou resolver o problema. – e sorriu


- To com muito medo. – sussurrou Naty.


Lúcia estacionou o carro no estacionamento e todas saíram do carro e foram para a parte interior do shopping.


- Rhaissa você e Naty vão passear e fazer o que vocês iriam fazer, enquanto eu e a Cecília vamos bater perna pelas lojas. – Lúcia disse as duas garotas piscando o olho.


- Tá legal mãe, estamos indo. Vamos Naty. Tchau tia! – falou Rhaissa


- Tchau crianças e cuidado, qualquer coisa ligue para o nosso celular e as vinte e uma horas nos encontramos na praça da alimentação. – retrucou Lúcia enquanto Cecília olhava para as meninas e sorria enviesado. As duas mulheres saíram em direção as lojas de roupas, enquanto as adolescentes iam em direção a praça da alimentação, conforme haviam combinado com o Greg. Naty estava ansiosa e preocupada. Estava vestindo uma calça jeans, com uma bota preta de cano longo, uma blusa preta e um casaco. Ao chegar no ponto de encontro, viram o Greg as esperando com um amigo. Estavam nervosas e ao mesmo tempo excitadas com o encontro.


Naty estava assustada e muito preocupada. Sua intuição dizia que não era um bom dia para algo como aquele. Algo podia acontecer. Ela olhava para os lados para ver se sua mãe não estaria por ali, mas logo se acalmara quando percebeu que sua mãe não estava por perto.


Elas foram em direção a eles, quando Naty percebeu alguém olhando para ela. Era no segundo piso. A praça da alimentação do shopping era no primeiro piso e ficava ao lado de uma escada rolante que dava para o segundo piso. Ela rapidamente olhou para cima, pensando que poderia ser sua mãe a observando, mas para sua surpresa não era ela, era um garoto, como no sonho, no topo da escada rolante. Era ele o Lucas. Ele estava lá, parado, olhando para Naty, com um olhar fixo. Naty parou e nisso sua amiga falou com ela, perguntando o que estava havendo. Ela olhou para Rhaissa por um rápido momento e voltou o seu olhar para cima e para sua surpresa ele não estava mais lá. Naty ficou confusa e começou a olhar para vários lugares a procura dele, mas nada viu. Rhaissa a chamou mais uma vez:


- Doida! Você não queria tanto vir? Por que fica aí parada olhando para o nada? Vamos logo, os gatos estão lá nos esperando. – reclamou Rhaissa com a Naty. E ambas foram na direção dos dois rapazes. Greg deu um beijo na Naty e cumprimentou a Rhaissa. Apresentou o seu amigo, Luiz que logo dei um beijo no rosto de cada uma das meninas. Procuraram uma mesa para se sentarem. As mesas da praça da alimentação são amarelas com cadeiras com assentos amarelos. Sentamos atrás de uma das pilastras que eram pintadas de cinza claro na parte inferior e azul bebê na parte superior, bem próximo ao fast food Habibs. Naty não estava a vontade, ao contrário de sua amiga que estava bem enturmada. Greg perguntou:


- Naty o que você tem? Parece preocupada?


- Greg, minha mãe está no shopping! Meu! Ela não sabe que estamos namorando, entende? – comentou Naty muito aflita.


- Mina, relaxa! Não tá rolando trampo nenhum. Não é crime nenhum namorar. Fica fria e..


- Greg, você não conhece minha mãe. – cortou ela para falar.


- Relaxa! – disse Greg e aproveitou e a beijou.

Naty não queria, estava com medo, mas não resistiu e foi levada pelo beijo de Greg. Neste momento não se preocupou com sua mãe.


Depois de um tempo sentados ali, Naty percebeu que Greg estava olhando para uma direção fixamente. Para não chamar a atenção de Greg, foi virando devagar e viu que ele estava olhando na direção de um grupo de meninas lindas que para sua surpresa eram as populares da sua escola. Uma delas estava brigando com seu namorado. Era a Laryssa que estava quebrando o pau com ele. Após um pequeno tempo, ele foi embora e pelo jeito havia acabado, pois ela estava chorando abraçada a Dandara. Naty ficou grilada. Queria entender o porque que Greg estava olhando? Mas logo deixou de lado isso. Ela estava apaixonada pelo Greg e tinha certeza que ele também estava por ela. Sempre estava a beijando e abraçando e quem se afastava mesmo era ela, pois estava com medo que sua mãe visse e atrapalhasse seu momento tão importante em sua vida.


Em um momento as populares sentaram-se à mesa ao lado da deles e isso fez gerar certo mal estar na Naty, pois nesse momento pareceu que Greg se afastara e ficou meio sentado virado para elas, mas voltado para a Laryssa. Naty achava que isso era ciúme bobo dela e procurava não pensar. Continuava a conversar com Rhaissa e o amigo de Greg Luan, que era o apelido dele. Luan estava se dando bem com a Rhaissa. Rhaissa era uma adolescente de fácil convívio e arrumava amigos com facilidade. Mas o casal tinha um certo affair, uma química que fez com que Rhaissa a pessoa que sempre era contra a beijar no primeiro encontro, estava lá provando que sua teoria era uma furada e que o coração fala mais alto. Luan e ela estavam se beijando mais que Greg e Naty. Naty achava que era porque era o primeiro momento do casal e ela e Greg já tinham uns dias de beijos. Naty estava realmente gostando dessa situação de estar um pouco afastada de Greg. Realmente sua preocupação com sua mãe é muito grande.


- Greg, você pode comprar um refrigerante para mim enquanto vou com a Rhaissa no banheiro? – argumentou Naty.


- Claro, mina, pode deixar. – ele falou e se levantando, beijou-a e foi com Luan na lanchonete perto, mas antes ele foi em direção a mesa das populares e falou:


- Gata, você pode tomar conta da mesa para gente. – falou sorrindo para Laryssa que respondeu com outro sorriso e balançando a cabeça e ele agradeceu e foi direto para a lanchonete.


Naty e Rhaissa foram em direção ao banheiro e contavam uma a outra o que estavam sentindo. No banheiro se encontravam a Paulinha e a Valéria, outras populares da escola. Estavam se maquiando e melhorando aquele visual que já era muito lindo. Elas olharam para Rhaissa e Naty e Paulinha cumprimentou Naty que retribuiu e se virou para o espelho e continuou a sua conversa com Valéria que namorava o gato Marcelo.


- Val, você viu o gatinho do Lucas, ele é uma graça, pena que é muito tímido. – falou Paulinha.


- É ele chique demais, menina. Se eu não estivesse tão apaixonada pelo meu namorado eu até que partia para o ataque.


- Tu não presta Val, você sempre querendo mais, deixa ele comigo que vou dar um trato nele. hahaha – Riram as duas amigas enquanto Naty estava no Box do banheiro ouvindo o que elas estavam falando sobre o seu colega Lucas e continuou a Valéria falar.


- Ele realmente dá um caldo muito bom. É uma pena! Menina será que é verdade que dizem dele? – perguntou Valéria a Paulinha e nesse momento entrou a Laryssa no banheiro do shopping.


- Laryssa estamos aqui fofocando sobre o Lucas. E eu estava perguntando a Paulinha se ele sabe da história que falam dele na escola. Você ouviu? – perguntou novamente Val, enquanto Naty estava super atenta na conversa, mas ainda no box privativo.


- Ouvi sim menina e soube que é verdade! Ele veio para a nossa escola porque repetiu na outra porque sua namorada morreu e ele pirou! Coitadinho! – falou Laryssa e nesse momento Rhaissa se intrometeu na conversa delas e perguntou:


- Meninas, vocês estão falando de um garoto que parece ser meu amigo. O nome dele é Lucas Figueiredo? – questionou Rhaissa espantada.


- hãm hãm - confirmou Paulinha e perguntou: - Por que? Você conhece aquele monumento de garoto?


- Sim, conheço. Ele é um amigo de infância. Eu não sabia que ele estudava aqui na Penha e tão perto de outra amiga tão querid..- Rhaissa parou e lembrou sobre o que seu amigo lhe confessou a uns dias atrás e pensou: - “Não pode ser a mesma Naty!” – Rhaissa se virou e foi em direção ao Box onde estava Naty e perguntou baixinho:


- Naty, você tem um colega de sala chamado Lucas? – aguardava ansiosamente a resposta


- SSimm! Parece que você o conhece bem, né? – argumentou Naty, surpresa.


- Sim amoré! O conheço muito bem desde criança.


- Você já namorou com ele, princesa? – perguntou Valéria com um ar de interesse.


- Não! Ele é realmente meu melhor amigo. – afirmou Rhaissa. Nesse momento Naty saiu do Boxe e foi em direção a bancada das pias e começou a lavar a mão e a ver sua amiga a acompanhando e a observando de um jeito diferente. Naty se despediu das populares e ao sair ouviu Laryssa dizer para as amigas:


- Agora que estou sem namorado, vou dar em cima do Lucas. A se vou, vocês vão ver. Ele será meu. – afirmou Laryssa com imponência e certeza de que o Lucas já era seu.


Rhaissa queria mesmo era ligar para o Lucas e falar que sua amada era amiga dela e que tomasse cuidado com a tal poderosa Laryssa, pois parecia que o queria como se fosse um troféu. Ela estava preocupada, pois sabia que Naty estava totalmente apaixonada por Greg e não pelo seu amigo, apesar dela ter comentado que ele era bonito e que tinha uma quedinha por ele. Mas também queria ser sincera com ela dizendo que achava que o Greg era um garoto que apenas queria curtir, mas não era justo, pois era apenas achismo, um julgamento precipitado.


Chegaram a mesa e os dois rapazes estavam lá observando-as chegar. Levantaram-se para beijá-las e se sentaram novamente. Luan havia comprado uma torta de chocolate para Rhaissa. Naty observava como Rhaissa havia mudado de atitude em relação ao Greg, mas não sabia ao certo o porque. A noite foi entrando e tudo estava dando certo para Naty, apesar de em seu íntimo estar em alerta máximo.


Ficaram ali sentadas mais algumas horas. Comeram, riram, beijaram e na hora marcada as mães de Naty e Rhaissa chegaram e viram as meninas sentadas com os dois garotos.


A Lúcia chegou falando com a filha enquanto Cecília encarava Greg e Naty. Rhaissa apresentou os garotos que logo foram se levantando e dizendo que já iam embora. Greg deu um beijo no rosto da Rhaissa e quando foi beijar a Naty ela logo disse:


- Tchau Greg! Tchau Luiz! – Naty olhou para ele com tristeza e com um pedido de desculpa. Greg entendeu e deu um tchau com a mão e ele e o amigo foram embora. A Naty estava suando frio e sua mãe percebeu e não comentou nada. Quando estavam indo para o estacionamento Naty novamente percebeu que alguém estava fitando-a. Ela virou e viu um vulto preto atrás de uma das pilastras. Ela ficou olhando por alguns segundos e depois seguiu para o interior do carro e ficou olhando em direção as pilastras com a esperança de ver quem era que estava ali, mas nada aconteceu e foram embora para suas casas.


Naty passou o resto do final de semana foi arrumando seu armário e trancafiada em seu quarto.


* * *
Durante a noite fria e chuvosa de domingo, Lucas ligou o seu celular que havia ficado desligado durante o final de semana. Ele não havia saído, preferiu ficar em casa curtindo sua dor de cotovelo. De repente começou a tocar recebimento de mensagem em seu celular. Ele olhou e notou que usa amiga Rhaissa havia ligado para ele umas doze vezes e havia uma mensagem estranha dela escrita o seguinte: - “Vc naum irá acreditar, mas a tenho uma bomba para te contar! Me liga logo!” – Ele não deu a devida importância ao recado de sua amiga e desligou novamente o seu celular. E continuou em seu quarto com seus pensamentos e sua dor.


Acordar na segunda-feira foi um terror para ele pois sabia que iria ter que conviver com situações muito difíceis para ele. Ver a Naty aos beijos com Greg. Ele não entendia esse sentimento seu pela Naty, ela nunca lhe dera um sinal de esperança. Tudo não passava de fruto de sua imaginação, talvez por estar tanto tempo sozinho.


Quando chegou a sala de aula, Greg e Naty não estavam juntos, que já era um alívio. Na hora do lanche ele preferiu ficar em sala de aula e por acaso Naty também ficou, pois iria ajudar sua amiga Lê em matemática. Greg não estava lá. Lucas a olhava quando tudo ficou escuro. Alguém havia tapado os seus olhos. Lucas tentou tirar aquelas mãos de seus olhos e percebeu que eram mãos femininas.


- Advinha quem é Lucas? – sussurrou uma voz feminina em seu ouvido.


- Não sei quem é! – respondeu Lucas. Neste momento sua visão foi voltando ao normal e a garota foi aparecendo a sua frente como um anjo. Ele ficou ali olhando-a e admirando-a como se estivesse vendo uma musa.


- Olá gato! Meu nome é Laryssa. – disse ela jogando todo seu charme e sentando-se a cadeira a frente da dele.


- Oi. – respondeu ele ainda surpreso com aquela presença. Laryssa começou a conversar com ele e durante o papo ela pediu ajuda a ele na matéria nova de português:


- Luquinhas! Você pode me ajudar? – pediu toda dengosa.


- Claro que ajudo. Quer ficar hoje depois da aula para tirar sua dúvida?


- Claro que sim! Quanto mais cedo melhor, né? – ela confirmou ainda muito melosa.


- Então tá combinado. Você vai ver que a matéria nova não é difícil. – falou sorrindo para ela.


- Só quero ver luquinhas!


Neste momento, Naty estava prestando atenção na conversa dos dois ao invés da Lê, que lhe chamava a atenção.


- Garota, qual é! Eu estou aqui. Para de ser fofoqueira! – disse Letícia com um tom chateado em sua voz.


- Perdão amiga, foi mal. – respondeu Naty. – Não sei o que deu em mim. – continuou Naty.


- Tá! Tá bom! Até parece que você gosta é do Lucas e não do Greg. Deixa ele saber que você está a fim do Lucas. Hahaha! – gargalhou Lê e falou em tom sarcático.


- Você tá maluca Lê. Eu gosto do Greg. Não tá vendo que a Laryssa está gostando dele e ele dela? – retrucou Naty com um certo tom de mágoa.


- É verdade menina. Eu estava notando a mesma coisa, Desde que ele chegou, ela não tirou os olhos dele. Acho que ele será mais um popular.


Naty não respondeu e voltou o seu olhar para o livro de matemática. Alguns segundos depois tocou o sinal do fim do lanche, quando Greg entrou na sala as gargalhadas e foi em direção a Naty e deu-lhe um senhor beijo. Lucas olhou para aquela cena e ficou lívido. Laryssa que estava sentada a sua frente, percebeu os olhares dele em direção ao casal que estava se beijando e viu que naquele olhar tinha coisa. Paulinha chegou perto da Laryssa e disse que precisava falar com ela. Laryssa levantou e deu um beijo na face de Lucas bem ao lado da boca dele. Ele percebeu o beijo ao lado de seus lábios e olhou em direção a ela e disse:


- Até mais tarde Laryssa! – falou sorrindo para ela


- Inté, Luquinhas! – respondeu Laryssa com um piscar de olhos.


Lucas percebeu que Laryssa estava dando mole para ele. E começava a analisar as possibilidades de ficarem juntos. Ela é linda, charmosa e gosta dele, até parece que ele estava ouvindo seu psicólogo doutor Alexandre Reis, quando o orientou a deixar aberto todas as possibilidades de relacionamento.



**** Importante: Os nomes aqui nessa história são homenagens a amigas e amigos que de alguma forma me apoiaram neste projeto, mas o tema que cada um vive aqui é pura ficção, não tendo nada de real sobre os mesmos.

Autor: José Henriques Martins (josehenriquesmartins@gmail.com)
Série: As aventuras de Naty

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